segunda-feira, 18 de julho de 2011

Por vezes a química permite melhorar o que a natureza nos dá


Na figura está uma pintura a óleo de 1614 do pintor holandês Govaert Flinck. Na situação representada, só a parte da direita está envernizada . tendo para isso sido usado como verniz uma resina natural.


Nesta imagem a pintura já está completamente envernizada, só que para envernizar a metade esquerda foi usada uma resina sintética. Esta decisão foi tomada com objectivos bem determinados.

A pintura inicialmente foi certamente envernizada pelo seu autor com uma resina natural, o objectivo não seria tanto a protecção, mas mais fazer com que as cores ficassem mais saturadas, a pintura ficasse mais escura e mais brilhante. Infelizmente, ao longo do tempo, o verniz deteriorou-se  - tornou-se mais amarelado, rachou e ficou mais nebuloso. Por outro lado, por causa da oxidação e outras reações químicas, o verniz ficou mais insolúveis e difícil de remover em trabalhos de conservação.
 

Reaplicar um verniz natural só iria repetir o ciclo de degradação, pois o revestimento voltaria a deteriorar-se com a idade. Este era um problema comum nos trabahos de conservação, cuja resolução envolveu o trabalho de químicos que desenvolveram e testaram novos materiais que ajudem os conservadores a preservar obras de arte.

Há várias décadas, a indústria química criou uma infinidade de polímeros sintéticos que ficaram amplamente disponível e que se acreditava serem mais estáveis ​​do que as resinas naturais. Alguns destes foram usados por conservadores no seu trabalho antes de haver uma boa compreensão científica da forma como essas  resinas sintéticas funcionariam com materiais de arte e se comportatiam ao longo do tempo. Acabou por se concluir que muitas delas também estavam sujetas a processos auto-oxidativos e outras reacções que faziam com que ao longo do tempo fosse cada vez mais difícil removê-las. Anos mais tarde foram desenvolvidas outras resinas que não tinham este problema, mas também não tinham tão boas característica ópticas como as resinas naturais. 


Seguiu-se então uma nova linha de investigação em que o objectivo principal era produzir resinas de baixa viscosidade e baixo peso molecular, como é o caso das resinas naturais, e que tivessem as vantagens destas, mas não os seus inconvenientes. Finalmente tal foi aparentemente conseguido.com a vantagem da resina sintética obtida ser ainda solúvel em solventes menos tóxicos que a natural e assim melhorar o trabalho dos conservadores.
 
Numa colaboração entre o responsável pelo desenvolvimento desta resina - E René de la Rie, cientista do Metropolitan Museum of Art de New York - e Mark Leonard, responsável pela conservação de pinturas do J. Paul Getty Museum em Los Angeles, foi decidido fazer uma experiência com a pintura de Flinck acima. Metade dela foi envernizada com a resina natural e a outra metade com a resina sintética desenvolvida por de la Rie, de forma a comparar as propriedades ópticas e o comportamento com o envelhecimento das duas resinas.

Depois da aplicação as duas resinas tinham aparências tão idênticas que vários conservadores não conseguiram distinguir uma resina da outra.

Fonte: http://pubs.acs.org/cen/coverstory/7931/7931art.html

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