segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Química dos Impermeáveis


Com a aproximação dos dias de chuva, os casacos impermeáveis voltam a sair dos armários. E com eles, mais um dos confortos que temos a agradecer ao desenvolvimento da química.
A sua origem remonta pelo menos ao Século XIII, aos indígenas da América do sul que cobriam as roupas com látex para os tornar impermeáveis. A ideia foi importada pelos europeus, mas o sucesso não foi imediato: os primeiros impermeáveis eram pesados, desconfortavelmente rígidos e devido ao solvente utilizado para espalhar  a cobertura do latex sobre os tecidos eram sobretudo, bastante mal cheirosos.
O desenvolvimento da química de polímeros permitiu que os impermeáveis se  fossem tornando cada vez mais leves, flexíveis e inodoros.
Mas, a qualidade mais notável dos impermeáveis modernos é que, também  permitem a transpiração da pele, isto é, impedem a entrada da água da chuva, mas permitem a saída do vapor de água libertado pela transpiração.
Este efeito é obtido através da criação de estruturas com minúsculos poros, por onde as gotas de água não entram, mas as moléculas de vapor de água ( isoladas) podem passar facilmente.
Os modernos tecidos impermeáveis arejados são obtidos com duas camadas de polímeros de propriedades diferentes: uma primeira camada de um polímero micro poroso hidrofóbico, ou seja, que repele a água; e uma camada de poliuretano, que fica virada para dentro, mais próxima da pele que é hidrofílica, ou seja, atrai a água e absorve a humidade que se liberta da pele.
Depois, entra em ação um pouco de termodinâmica: a diferença de temperatura entre o lado de dentro e o lado de fora cria as condições necessárias para que as moléculas de água absorvidas pelo poliuretano sejam empurradas para o exterior.
Se vestir um impermeável e se sentir como se estivesse numa sauna, então é porque ele ainda não está a tirar partido do desenvolvimento da química dos polímeros.

Episódio da série A Química das Coisas

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Ir às iscas

Uma boa sugestão do Roteiro "Em Lisboa, à Descoberta da Ciência e da Tecnologia" do Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva.


O alfacinha do início do séc. XX ia às iscas. Comi-as com elas ou sem elas, ou seja, com ou sem batatas. Diz, Albino Forjaz de Sampaio em “Volúpia – a Nona Arte: A Gastronomia” que as de uma casa na Trav. do Cotovelo eram afamadas. As ultra-finas fatias de fígado eram cozinhadas numa enorme frigideira de ferro por cozinheiros galegos. Nunca se lavava a frigideira, “a não ser de anos em anos, quando os cozinheiros iam à terra, para deixar mal parados os créditos do substituto”.
O ferro tende a enferrujar, o que dá à comida um sabor desagradável. Mas ao se aquecerem os recipientes com óleo, este polimeriza formando uma camada protectora que evita o contacto com a água, e assim a ferrugem. A lavagem frequente removê-la-ia…
Ainda hoje é possível prová-las um pouco por toda a cidade. Procure-as nas tascas de Lisboa.
(versão integral)



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Química do Descafeinado


O “descafeinado” é mais um bom exemplo da presença da Química no nosso dia a dia.
O primeiro processo para  obter o café descafeinado passava por lavar os grãos de café com um solvente orgânico  - idêntico aos solventes das tintas e vernizes – que dissolvia bem a cafeína…  mas que dissolvia também os compostos que dão aroma e sabor ao café, deixando-o…sem aroma nem sabor! Além disso, havia sempre o perigo da presença de resíduos do solvente nos grãos, com os consequentes efeitos nefastos para quem procurava esta forma supostamente mais saudável do café.
A situação mudou com a descoberta dos fluidos supercríticos e das suas propriedades como solventes.
Explicando melhor, vamos falar das alterações de estado da matéria com a pressão e a temperatura. Por exemplo, à pressão e temperatura ambiente, o dióxido de carbono é um gás, mas com o aumento da pressão pode passar a líquido, e se baixarmos a temperatura passa a sólido. Se aumentarmos a temperatura e a pressão, atinge um novo estado, o de fluido supercrítico – passando a apresentar propriedades de líquido e de gás. Ou seja, um gás com a densidade de um líquido.
Hoje em dia, a cafeína é retirada do café por lavagem com dióxido de carbono supercrítico, em condições em que este dissolve a cafeína, mas não os aromas do café.  Quando o café, já descafeinado, regressa à pressão ambiente, todos os resíduos de dióxido de carbono se evaporam. E mesmo que alguns vestígios permaneçam, não representam qualquer problema para a saúde,  já que o dióxido de carbono faz parte do nosso metabolismo.
Assim, graças aos desenvolvimentos da Química, os consumidores podem saborear o gosto e o aroma do café sem os efeitos prejudiciais da cafeína.

Episódio da série A Química das Coisas

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pastéis de Belém

O que é doce, nunca amargou! Aqui fica mais uma sugestão do Roteiro "Em Lisboa, à Descoberta da Ciência e da Tecnologia" do Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva.


Muitos são os doces que provêm dos antigos conventos de Lisboa, mas poucos são tão apreciados como os famosos pastéis de Belém. Estes pastéis começaram a ser vendidos junto ao mosteiro dos Jerónimos, na sequência do encerramento dos conventos após a revolução liberal. Desde 1837 são fabricados nas atuais instalações segundo a secreta receita original oriunda do convento. Fundamental no pastel é a “caixa” de massa folhada, engenhosamente colocada nas formas para que se formem finíssimas camadas concêntricas. Torna-o possível o glúten, uma rede de proteínas da farinha que fortalece as camadas. Para que estas se formem, a massa é repetidamente esticada, com manteiga entre camadas, depois o calor, o ar e o vapor de água completam o trabalho.

sábado, 6 de outubro de 2012

A Química do Sal


Quando pensamos nos compostos químicos que contribuem para o bem-estar da humanidade, raramente nos lembramos do cloreto de sódio… o vulgar “sal de cozinha”. Na verdade, o sal é um dos compostos químicos há mais tempo utilizado pelo Homem pela sua capacidade para conservar alimentos, o que o tornou numa mercadoria de elevado valor.
De facto, a conservação dos alimentos pelo sal é uma das bases da nossa civilização, pois permitiu libertar o homem da dependência sazonal dos alimentos e armazenar durante o verão as reservas alimentares para o inverno.
A adição de sal a um alimento desencadeia um processo de osmose, que faz com que a água passe de um ambiente com uma menor concentração de sal para um com maior concentração. Assim, o sal retira a água dos alimentos, inibindo o crescimento de micro-organismos. Estes micro-organismos, que causam o apodrecimento dos alimentos e produzem toxinas que afetam a nossa saúde, não sobrevivem num de elevada pressão osmótica, isto é, que lhes rouba a água por osmose.
O cloreto de sódio é também um componente alimentar essencial ao funcionamento do nosso organismo. A dissolução do “sal” origina iões sódio e iões cloreto, os quais estão presentes em todos os tecidos e fluidos do corpo humano, onde desempenham funções muito diversificadas. Só para citar as mais importantes, são essenciais para o equilíbrio osmótico entre os fluidos celulares e extracelulares, garantem o equilíbrio entre iões positivos e iões negativos no organismo e têm um papel relevante na transmissão de impulsos nervosos por todo o corpo.
Mas em excesso, o sal pode trazer-lhe complicações de saúde. Não ultrapasse a ingestão dos 6g diários recomendado pela Organização Mundial de Saúde se quiser beneficiar da química do sal!

Episódio da série A Química das Coisas