Há coisas que de tão intuitivas, virtuosas até, parecem uma verdade indiscutível… Mas serão? Muitas não.
“Come que é tudo natural!”
Se me dizem isto apetece-me logo
perguntar: O que é que significa natural? O que é que isso garante?
Significa que é mais saudável?
De facto, o que é considerado "natural",
são por vezes coisas bem diferentes. Algumas altamente processadas. E
será mau o facto de serem processadas? Não necessariamente.
Quanto às coisas naturais serem
saudáveis… Infelizmente as coisas não são tão simples. É sempre preciso
mais conhecimento, mas conhecimento bem fundamentado, em fontes
credíveis. Os venenos mais potentes existem na natureza, e o homem até
aprendeu a evitá-los ou, empiricamente, a eliminá-los. O caso da
mandioca brava é um bom exemplo. É muito rica em cianeto, e alguns povos
desenvolveram ao longo de séculos técnicas para a processar e eliminar o
cianeto de forma a poderem consumi-la, é fascinante. Ou seja, a
mandioca tem que ser altamente processada para se tornar num alimento
saudável.
Num mundo não muito seguro, e em que a
informação que nos chega é por vezes complexa e confusa, recorremos a
várias âncoras, como esta do "natural", para criar zonas de segurança.
Mas podem ser falsas zonas de segurança. A indústria e o comércio
exploram esta, nem sempre justificada, associação entre o natural, o
saudável e o seguro para vender. A imprensa bombardeia-nos com
informação sem nenhum fundamento sobre os benefícios do “natural” versus um também mal definido “processado”.
Nem sempre o que parece é, e nem sempre o
que é intuitivo é verdade. É urgente que se invista mais em educação e
que estes conceitos comecem a ser clarificados na escola, talvez assim
dentro de alguns anos os consumidores sejam mais informados, críticos e
exigentes e façam escolhas mais racionais.
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Post inicialment publicado no blog Assins & Assados
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